Paulo Gustavo diz que “Minha mãe é uma peça é feito para quebrar tabus

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Em sua segunda semana em cartaz, “Minha mãe é uma peça 3” passou de 4 milhões de espectadores nos cinemas e já arrecadou R$ 70 milhões desde sua estreia em 26 de dezembro.

Os números mostram a força da Dona Hermínia vivida por Paulo Gustavo. O filme anterior da saga da saga da dona de casa de Niterói ainda é a comédia recordista de bilheteria no Brasil, com 10 milhões de ingressos vendidos.

Em entrevista ao G1, o humorista carioca de 41 anos fala sobre (a falta de) tabus para fazer humor e explica alguns assuntos mais polêmicos do terceiro filme.

Paulo Gustavo comenta o fim das piadas sobre o peso de Marcelina, vivida pela atriz Mariana Xavier, e a ausência de um beijo no casamento do outro filho, Juliano (vivido por Rodrigo Pandolfo).

G1 – Existe um tipo de humor que está muito na moda: é o humor que não te faz rir tanto, mas te faz pensar ‘muito importante falar sobre esse tema’ ou ‘uau, que coragem fazer essa piada’. Qual sua opinião sobre esse tipo de humor? Até que ponto o humor tende a ficar menos mordaz, menos surpreendente, menos engraçado, mesmo que mais alinhado a valores que são nobres?

Paulo Gustavo – Eu não fico muito fazendo reflexões sobre tipos de humor. Também nunca participei de nenhuma palestra sobre isso. E não sei, mas embora seja comediante, humorista e autor de comédia… não sei nem se sou a melhor pessoa pra falar. Porque quando você está dentro da história, dentro da situação, eu não fico muito pensando de fora.

Não fico pensando no que tenho ou não que dizer. Eu digo o que quero falar naquele momento. A arte não deve ser pautada, entendeu? Ela tem que ser livre. Então, eu sou livre. Eu falo do assunto que me dá na cabeça, igual na análise. Você vai na análise, você fala, solta. No dia em que você não tem nada pra falar, é o dia que você mais tem pra falar. Eu sou um pouco assim com a minha vida profissional.

G1 – Para você, não existe tema que seja tabu na hora de fazer humor?

Paulo Gustavo – Eu acho que o humor é o melhor gênero pra falar e criticar ou quebrar tabus. Eu tenho o melhor gênero na mão pra fazer isso. Pra falar de assuntos delicados…

Eu sou muito crítico comigo mesmo. Então, às vezes, eu escrevo uma coisa e passa um tempo. É que nem massa de bolo. Aí eu passo cinco dias, releio, e falo: “Ah não, não vou falar isso não, não tem nada a ver falar isso”.

“O meu texto é trabalhado exaustivamente. Não é uma coisa que eu chego ali e falo qualquer coisa. As pessoas muitas vezes falam ‘Ah, o Paulo Gustavo improvisa muito’. Eu tenho horror de improvisar. Horror.”

Claro que eu solto um “caco” ou outro ali e também é uma certa maneira de improvisar. Mas depois que eu solto o “caco” e eu gosto, eu mantenho ele fixo. Então, tudo meu é muito pensadinho.

G1 – O Rodrigo Pandolfo falou em uma entrevista que o casamento no filme não teria beijo entre os noivos… E muitas pessoas não gostaram dessa escolha. Como você recebeu essas críticas?

Paulo Gustavo – Eu não sei o que o Rodrigo falou ou deixou de falar. Eu não esmiucei isso com ele. Eu acho que com relação a essa história isso acabou acontecendo por conta daquela história do Crivella [o prefeito do Rio mandou recolher livro da Bienal, com uma ilustração de dois personagens masculinos se beijando]. E aí passaram a perseguir o meu roteiro por causa disso. Meu filme já estava filmado e não tem beijo porque não tem beijo.

G1 – Mas por que não teve beijo?

Paulo Gustavo – Porque não foi escrito. E eu acho que eu não tenho que ser obrigado a colocar beijo justamente pelo motivo de que eu acho que a arte não tem que ser obrigado. É um trabalho artístico e eu tenho que escrever o que eu estou sentindo. A cena não foi construída para isso. Não tem um casamento completo: entrada, trocas de aliança, damo de honra, e fala o padre, e fala não sei o quê. Não teve isso. Foi uma cena trailer. E a intenção daquela cena na verdade era mostrar o olhar da Hermínia, protagonista do filme, pra aquele casal. E pra aquele filho seguindo o caminho do amor ali.

Eu quis falar exatamente o que eu vivi na minha vida. Eu sei que não é a realidade de todo mundo, mas eu vivi isso. A minha mãe e meu pai, e os pais de Thales [esposo do ator], tiveram muito orgulho desse momento nosso. Agora, não teve essa coisa de beijo, esse detalhe, entendeu? Eu acho que o filme é muito maior do que isso. Eu não senti falta do beijo na hora que eu escrevi.

G1 – Vi os três filmes fazendo anotações e uma contagem das piadas de acordo com temas. As piadas sobre o peso da Marcelina foram diminuindo. No primeiro foram 21, no segundo 5 e no terceiro não tem. Quando o tema é a sexualidade do Juliano, também tem uma queda. Como você vê essas mudanças?

Paulo Gustavo – Eu vi que você é CDF, né? Fez conta de quantas piadas de acordo com os temas. Achei bem CDF. É um processo natural de uma pessoa, no caso falando de mim mesmo, que vem tendo um ganho de consciência. Coisas que eu poderia falar antes, eu não falaria mais hoje. Muita coisa que brinquei há dez anos, eu já não acho mais graça. Tem essa consciência que a gente está ganhando cada vez mais até por ter essas pautas que a gente vem discutindo.

E eu acho que eu amadureci como ser humano. Eu vou fazendo meus trabalhos de acordo com meu jeito de ser. Eu não sou a mesma coisa que eu era. A arte ela acompanha isso ou isso que acompanha a arte. O terceiro filme inteiro é a Dona Hermínia querendo entrar na vida do Juliano e resolver o casamento dele. E feliz conhecendo a sogra, mãe do namorado dele…

G1- Você está ficando mais politicamente correto?

Paulo Gustavo – Não acho que eu estou politicamente correto. Tem coisas que eu falo que são até mais radicais e podem ser mal interpretadas.

G1 – O terceiro filme tem piada com uma pessoa rica fazendo terapia…

Paulo Gustavo – Eu lembro que tem uma piada com uma menina que é milionária, os pais amam ela, o marido ama ela, ela já viajou o mundo, ela tem tudo… mas ela está infeliz. A gente brinca com esse clichê, da pessoa que tem tudo, que a vida aparentemente é perfeita.

Mas às vezes quando a gente tem tudo chega uma hora que a gente acha que não tem nada. A gente fala um pouquinho do vazio dela, mas a gente fala de uma forma brincalhona, escrachada. Aquilo é tudo uma cena pra levantar piada pra Hermínia.

G1 – Os três filmes têm piadas com frutas e a capacidade delas em soltar ou prender o intestino. É o único tema que repete, de forma mais parecida, a mesma ideia de piada. Você tem uma obsessão com isso? Por que repetiu essa ideia nos três filmes?

Paulo Gustavo – Isso é pela Marcelina… Faz parte da personagem, né? A gente brinca desde o primeiro filme que a Marcelina tem o intestino preso. E aí eu faço piada com fruta. Mas no “três” é comigo a piada, né? Mas não tenho obsessão com isso, não… [Risos]

Fonte: g1.globo.com

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